Cinco Anos

Shirley em busca do Golconda
16 min readOct 25, 2022

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Essa é uma longa odisseia, esteja avisado.

O Ano era 2016. E eu adotei um filhote de gato.

Eu tinha acabado de entrar na faculdade, estava prestes a sair de um relacionamento cansativo e eu não fazia ideia de como a vida adulta funcionava. Muito menos de como cuidar de outra vida. Mas eu assumi a responsabilidade com toda a seriedade do meu coração. Porque eu me apaixonei instantaneamente pela criaturinha que tinha vindo até a mim. Como eu não me apaixonaria?

Ele era lindo. E ele sabia disso.

Nesse ano, eu não fazia ideia do que estava fazendo da minha vida exatamente. Então eu vivia pra cuidar do filhote, estudar (o que eu não fazia direito) e jogar videogames com os meus amigos. Era uma vida simples. Não havia muito drama. Eu havia acabado de sair do ensino médio, eu estava me descobrindo. Mas eu tinha medo, muitas inseguranças e em relação a muitos dos meus amigos eu estava ficando para trás no quesito “vida adulta”.

2016 foi sobre a pressão de ser adulto e de crescer cedo demais quando a realidade era a de que eu não estava pronto para isso e não precisava ter me botado tanta pressão assim.

Eu era um bom Pai de Gato porém.

A vida ficaria complicada em 2017 em diante… e muitas vezes, eu passaria de cuidador para ser cuidado pelo meu gato. Porque ele dominava a casa, era tudo dele. Então ele observava tudo. Quem entrava e quem saía comigo. E especialmente, como eu me sentia.

Gatos são seres mágicos. E com uma perspicácia muito maior e mais apurada do que a nossa.

Então em 2017 a faculdade começava a mostrar-se mais séria. As responsabilidades se empilhavam e a pressão por uma “vida adulta” crescia cada vez mais. Eu via meus amigos se explorando, se descobrindo e eu ainda só pensava em videogames e em livros de Ficção Científica. Eu me sentia ficando pra trás, vendo a vida passar diante dos meus olhos sem conseguir tomar uma atitude real.

E o pior? Eu era ativamente desencorajado a tomar atitudes. Entre os meus círculos de amigos, havia esse interesse comum em cada um ficar mostrando aos outros como sua vida estava “indo para algum lugar” e se não estivesse indo, então pelo menos eles estavam “vivendo”.

Eu ia chegar lá, em algum momento, diziam eles. E eles iam mostrar o caminho.

Mas ninguém nunca mostrava absolutamente nada. A verdade é que nenhum deles fazia ideia do que estava fazendo. Nenhum de nós! Era tudo puro fingimento.

Eu só ia descobrir isso, obviamente, MUITO TEMPO depois.

Entre o amor por videogames e a pressão de viver a vida que eu queria, mas que eu sempre me impedia por n motivos externos e internos, eu conheci alguém que pouco a pouco, estava me ajudando a me soltar. E por um tempo, bem no início, foi bem legal. Eu tinha uma pessoa com quem eu poderia contar. E talvez, talvez, eu não acabasse ficando tão perdido no meio dessa confusão chamada vida.

A fé de que as coisas dariam certo e a ilusão de que eu poderia “salvar” as pessoas de seus próprios problemas, complexos demais para eu entender, foram duas coisas que me colocaram numa situação onde eu causei sucessivos danos catastróficos a mim mesmo. E junto com isso, eu me botei completamente aberto para sofrer toda sorte de dano, abuso e exploração psicológicas possíveis.

Eu convidei o caos à minha vida. E não foi o do tipo bom.

Minhas inseguranças nessa relação nova se agravaram em níveis estratosféricos. Eu não me achava o suficiente. Eu me achava medonho. Eu me achava estranho. Eu não era inteligente o suficiente. O meu curso não era bom? Eu não era bom no meu curso? E o pior: Eu não estava vivendo a minha vida, porque eu era patético. Todos me achavam patético. Era o que eu pensava. Era o que me era dito. Era no que eu acreditava.

Eu deixei as pessoas me dizerem, por muito tempo, o que eu era. O que elas achavam de mim. Eu procurava essas respostas e, normalmente, sempre tem alguém que acha que pode te dar essas respostas, mas na realidade, não sabe de nada.

Qual é o meu propósito aqui?
O que eu significo?
Eu sou uma dessas pessoas legais?

E eu não encontrava, não de verdade.
Isso fez eu me afundar dentro da minha própria cabeça. Eu ignorava a faculdade, o meu futuro, em prol de coisas momentâneas, de amizades ruins… tudo em busca da resposta.

Eu ficava muito triste e isso me fazia pensar muito. E quando eu pensava muito, a Ansiedade vinha. Ela se anunciava, dizendo pra mim que poderia piorar se eu não me cuidasse. E eu não me cuidava.

Mas eu chegava em casa, ia comer e ficar com meu gato. Ele observava os meus movimentos silenciosamente. Fazendo coisas engraçadas enquanto eu mexia com ele… todo dia, quando eu chegava da faculdade, por mais merda que meu dia tivesse sido, eu religiosamente passava de meia a uma hora brincando com ele. E eu me sentia melhor. Melhor do que entre as paredes torturantes da Universidade.

As coisas em 2017 foram de mal a pior. Foi o ano mais difícil da minha vida. Mas teve alguns momentos que o salvaram. Meu melhor amigo e eu começamos a sair de noite pra beber, geralmente quando nossas semanas não estavam boas por motivos semelhantes e foi assim que eu descobri que gostava muito de cerveja. Algo que está presente até hoje.

Meu esgotamento mental viria a tomar tudo de mim. Eu não estava feliz com a minha vida. Eu estava apaixonado e não era correspondido. Eu estava indo de mal a pior na faculdade. Nada parecia ir pra algum lugar e eu era fixado nos meus problemas, não querendo largá-los da minha mente. Isso me impedia de apreciar as coisas boas que eu tinha naqueles tempos, como muitos amigos que gostavam de mim e queriam me ver bem. Genuinamente bem.

Mas eu iria piorar.

Entra então, 2018. Já traumatizado e com várias sequelas mentais que iriam prenunciar o que hoje é a minha Ansiedade como a conheço, 2018 inicia de uma forma catastrófica: A relação que eu mantinha com a pessoa por quem eu era apaixonado chega a um fim abrupto após uma situação onde todos os limites possíveis do bom senso foram cruzados. Eu também sofri um acidente de carro. O acidente, foi o menos pior, por incrível que pareça.

Eu fiquei destruído. E com essa primeira queda, minhas inseguranças e defeitos chegaram na sua pior manifestação possível. Eu estava vivendo os dias tentando sobreviver e achar um motivo. Algo que me fizesse continuar. Algo que não fosse aquilo. Algo que não fosse outra pessoa. Durante esses meses, eu me tornei uma pessoa realmente desagradável e magoei uma das minhas melhores amigas. Ela não aguentou me ver preso em auto sabotagem e foi embora. E ela estava certa em fazer isso.

Eu não entendia como o mundo funcionava. Eu me apegava a ideias toscas e terríveis. E destratava meus amigos, na volubilidade das minhas emoções, que eu não fazia questão de controlar. Mesmo que eu também me entregasse a tantos ambientes onde o mesmo era feito comigo, não justificava o meu próprio comportamento.

Eu fiquei uma boa parte de 2018… perdido. Flutuando no espaço. Tentando encontrar a minha resposta. Livros. Jogos. O que funcionasse.

Um amigo meu foi gentil o suficiente pra me emprestar o Wii dele. E foi divertido! Por um bom tempo!

Até que eu surtei. E não foi uma vez, foram duas vezes.

No final de 2018, eu consegui um emprego temporário de estoquista numa loja de roupas, que me daria uma boa grana para passar o Natal e Ano-Novo. Era a segunda vez que eu ia me propor a fazer isso. Mas o trabalho era exploração pura. O proletariado na sua forma mais selvagem, eu diria.

Eu estava triste e depressivo. Minha mente vivia rebobinando a fita da relação que eu havia perdido ainda e eu não tinha superado nada de verdade. Pra piorar, eu ia de mal a pior na faculdade, me punindo mentalmente e me cobrando por cada reprovação, cada matéria perdida, cada tempo perdido. Era horrível.

Então eu descontava o ódio, a raiva, tudo, no trabalho. Eu trabalhava mais pesado que os outros. Eu não me dava muito descanso. Nas horas do almoço, eu comia muito, pra poder aguentar mais ainda o tranco. Eu ia além do que eu podia aguentar, porque eu aguentava. Mesmo não devendo.

Uma semana antes do ano-novo, antes do trabalho acabar, num belo dia, tudo parecia bem… eu tomei café, fui trabalhar e no almoço, eu comi um hambúrguer bem volumoso, afinal, eu merecia isso. Eu estava trabalhando como um condenado.

Quando a tarde findou, no fim do trabalho, minha cabeça começou a doer tremendamente e meu coração disparou. Eu não entendia o que estava acontecendo, então eu fui pra casa tentar me acalmar, afinal, já estávamos todos de saída. A calma não veio. A minha primeira suposição foi: Deus, eu posso estar tendo um ataque cardíaco. Parecia muito como um. Eu não sabia o que fazer, então eu me desesperei. Comecei a ligar pros meus pais, meus amigos…

Era a minha hora. Só podia ser. Eu fui parar no hospital. Minha pressão estava nas alturas. Eu não ia passar daquele dia. Era assim que acabava. Fim de história.

Só que não. Uma injeção de benzodiazepínico depois e eu estava… calmo?
Aquilo, meus amigos, era o meu primeiro ataque de pânico. O primeiro, de muitos.

Entra então, 2019: Eu comprei um Playstation 4 e me tranquei em casa. Com medo da Ansiedade, eu não consegui sair pra lugar algum, então foi difícil. Por muito tempo, eu só tinha coragem de entrar num único lugar: No inferno.

Eu sou um fã incansável de Doom.

Mas honestamente, eu vivia no Inferno. Dos meus pensamentos. Preso nas minhas inseguranças e sensível à tudo ao meu redor. Eu decidi que se eu estava preso no inferno, então era melhor só continuar andando… devia ter um fim, não?

Mas isso ia demorar.

Comecei os passos pra começar a tentar sair do meu isolamento dentro de casa, o que foi uma jornada difícil. Ir à faculdade, me encontrar com meus amigos, tudo exigia um cuidado meticuloso porque o próximo ataque de pânico sempre me espreitava, pronto pra roubar de mim a minha sanidade mental. Isso se refletia na minha aparência, no modo que eu falava, em tudo. Eu não conseguia esconder o quanto o medo governava cada parte do meu psicológico.

Mas pouco a pouco, com alguns copos compulsivos de água, novas companhias, apoio psicológico felino e o total abandono de algumas amizades… eu fui me curando. Eu aprendi a tocar a minha guitarra, que eu ganhei em 2012 (Demoraram sete anos, mas aconteceu) e então, eu comecei a lentamente, fazer o meu próprio caminho e “conhecer a mim mesmo”.

Eu comecei a narrar RPGs pros meus amigos e nós formamos um pequeno e humilde grupo, que embora não fosse experiente, era muito sólido!

Esse RPG em específico, era pra ser um Homebrew de Matrix. Eu não o terminei até hoje. Mas pretendo terminar, algum dia.

E eu passei a estar um pouco mais feliz do que normalmente eu aparentava estar.

E então o fim de 2019 chegou e… bem, eu conheci alguém. Eu conheci o amor da minha vida. E daí, daí a vida começou a ficar bem melhor e eu comecei a me sentir bem mais feliz.

Eu me sentia mais equilibrado em relação as minhas ideias, os meus pensamentos, quem eu era… e o que eu ia ou devia fazer. E embora algumas pretensões minhas daqueles tempos estivessem erradas (por exemplo, eu queria largar a faculdade), eu estava andando até a algum lugar. Eu estava deixando o Inferno.

E isso, por si só, já era uma benção.

Entra 2020…

Entra, a Pandemia.

O que acontece quando você tranca um ansioso dentro de casa obrigatoriamente por vários meses sucessivos?

Bem, ele relapsa. Ele relapsa, pesadamente.

A minha sorte foi que, eu não fiquei trancado sozinho. Com alguns meses de namoro, eu e a minha namorada passamos a quarentena juntos. E foi maravilhoso, na maior parte do tempo. Nós ocasionalmente, saíamos para fazer compras ou só comer, quando era permitido. A cidade era uma fantasma, na maioria das vezes.

Em casa, meu grupo de RPG se expandiu também com jogos pela internet e eu tive o “prazer” de unir dois grupos que deveriam ter se mantido separados. Mas ei, isso me trouxe as pessoas com quem eu jogo atualmente. E resultou na minha expulsão do outro. Então eu não estou reclamando. Mas eu chegarei lá.

A primeira parte da Quarentena não foi difícil, mas sim a primeira Abertura. Quando eu e meus amigos pudemos sair de novo. Quando bem… meus amigos começaram a tomar atitudes duvidosas. Atitudes que eu não era capaz de entender. E isso, combinado com a vida difícil em casa, me fez entrar em relapso terrível com a Ansiedade.

Quando seus amigos começam a ter problemas mais adultos e a cometer erros de adultos… bem no meio desse crepúsculo onde a juventude morre e as responsabilidades da vida adulta crescem, se você não toma cuidado, você pode se pegar estilhaçado num furacão de emoções idealistas sobre como “a vida devia ser” versus “ o que a vida é”. E foi exatamente isso o que aconteceu comigo. Eu me perdi no personagem.

Além disso, eu arrumei um emprego. Como estoquista. De novo. Parte da minha empreitada para não “depender” dos meus pais ou da faculdade. E do ápice da minha saúde mental, eu subestimei as sequelas que o meu primeiro ataque de pânico havia deixado na minha mente. Não só isso, mas com a “benção” da CLT e de ser um proletário de verdade agora, eu vi o quanto as pessoas eram exploradas e se vendiam, para ganhar o mínimo. O quanto eu, me vendi pelo mínimo.

Pelo mínimo, eu quebrei meus pés e a sanidade mental que eu havia cuidadosamente construído. E então, eu entendi, como a vida é, o quão difícil ela é… e que a guerra nunca termina. Só as batalhas. E você vence umas e perde outras. Durante esse tempo na minha vida, eu tive vários ataques de pânico, no plural… cada um diferente do outro, mas não pior que o primeiro.

Eu me pergunto como as coisas seriam se eu não tivesse a minha namorada, o amor da minha vida e sinceramente, a melhor amiga que eu poderia ter, ao meu lado. Talvez eu teria enlouquecido sozinho. Mas ela sempre me ajudou e eu sempre a ajudava. E no meio de todas essas dificuldades, nós nos mantivemos firmes um do lado do outro.

Eventualmente, eu deixei o emprego e decidi retornar à faculdade. Eu tinha experiência, eu era capacitado… e eu precisava de dinheiro. Mas eu não podia esperar dois anos. Eu precisava começar a construir minha vida agora. Então eu me apliquei pra várias vagas de estágio.

Eu faço Computação e sabe, realmente, eu amo a Computação. Mas eu odeio programar. Eu sempre gostei muito mais de Eletrônica, de Arquitetura de Computadores e é claro, da clássica Engenharia de Software, que embora envolva um pouco de Programação sim, eu acabo me interessando mais pelas partes de Projeto de Sistemas. Eu comecei a me preparar pra “reparar” o meu relacionamento com o meu curso e aceitar o que quer que viesse de um possível estágio, desde que fosse o mínimo.

Mas… eu dei sorte.

Meu maior talento, embora eu ame a Computação, é a escrita. E eu ganhei um trabalho que envolvia justamente isso. E ganhando muito bem.

Ah e o trabalho era a distância, então eu não estava bem reclamando.

Isso aconteceu bem no fim de 2020.

E nós também adotamos um segundo gato. Esse, era um pestinha. Eu digo “Nós”, porque esse segundo gato pertence ao meu Pai. Mas… quem cuida? Yours truly.

Entra 2021.

Entra, a Segunda Quarentena.

A Quarentena da Crise dos Oxigênios.

O Ansioso voltou pra sua toca e nela criou raízes profundas. Eu fiquei doente de Covid. E bom, eu enlouqueci bem e fiquei extremamente ansioso nos dias até a minha melhora. Mas a Crise continuou. Todo dia, eu acordava ao som de sirenes, e não eram de ambulância…

Além disso, todos já estavam fartos de ficar em casa, inclusive eu. Estranhamentos cresciam entre o meu grupo de RPG, onde eu fui lentamente percebendo que juntar algumas pessoas foi uma péssima ideia. Eu estava com o meu psicológico ainda quebrado de ficar em casa, ter trabalhado, ter passado por tanta, tanta coisa… que o próprio RPG acabou pesando nas preocupações, ao invés de ser algo relaxante.

A faculdade também voltaria, em formato remoto e depois de dois anos distante, eu estaria retornando junto com ela. Admito que o formato remoto foi um retorno mais “suave” do que eu esperava e meu desempenho pela primeira vez num semestre, tinha sido desejável e bom. O que me deixava feliz.

O estágio finalmente tomava forma e minhas responsabilidades nele ficavam claras. Eu levei muito a sério minhas tarefas, como as levo até hoje. Mas naqueles primeiros meses onde o meu salário equivalia ao meu valor, aconteceu o que eu não previa…

Meu gato, meu filho, que estava comigo desde 2016, ficou doente.

Sem pensar, eu afundei minha verba no tratamento dele em busca de que ele ficasse melhor e na esperança de que tudo desse certo. Já tinha acontecido antes. Ia dar tudo certo daquela vez. Minha Ansiedade, que estava melhorando, voltava mais uma vez junto de uma crise na minha vida, que eu sabia que iria deixar uma marca forte em mim se o pior acontecesse.

Até o fim eu tentei, nós tentamos. Mas não foi o suficiente.
Era a hora dele.

O Bono teve que ir, bem no momento onde as coisas começavam a se alinhar. Bom trabalho. Bom desempenho na faculdade. Um relacionamento maravilhoso. E embora a minha saúde estivesse em pedaços, eu ia melhorar. Eu ia ficar bem. Eu acho que ele sabia disso.

Mas eu não sabia. Eu deixei coisas alheias ao falecimento do meu gato obscurecerem minha mente. Bem no período que ele morreu, eu tive pessoas ao meu redor que não tentaram entender o que estava acontecendo. Eu perdi amizades. E um estresse terrível se abateu sobre a minha vida.

Foram Cinco Anos. Até tudo melhorar. Até tudo achar um chão sólido e as coisas se firmarem em seu lugar. Cinco Anos de construir e reconstruir um psicológico, que com as marés do tempo, vai sendo afetado e testado.

Cinco Anos de auto conhecimento. Era tudo o que tínhamos e foi o suficiente. Quando o Bono se foi, uma explosão aconteceu na minha vida, uma que parecia negativa… mas que agora eu percebo, era necessária. Aquele estresse, servia pra deixar a minha vida um pouco mais leve.

Ele se foi e eliminou os últimos traços de escuridão que ainda estavam sobre a minha vida naquele momento. E me deixou agora, somente com as minhas próprias lutas internas. O que eu confesso, é um pouco mais difícil… mas melhor do que tudo aquilo. Pelo menos, eu me conheço.

E essa crônica de acontecimentos termina no meio de 2021, mas eu escrevo aqui do distante futuro de 2022. Eu escrevo para mim mesmo, enquanto eu relembro o quanto eu mudei, o quanto o meu ciclo de amizades mudou, a minha vida mudou… as responsabilidades cresceram e aos poucos, eu vou construindo o que é meu.

A vida? Está bem melhor do que estava naqueles obscuros anos.

A minha mente? É um trabalho em progresso. Sempre é.
Eu ainda estou tentando deixar de me sentir mal ou ter ódio pelo tempo que perdi. Pelas pessoas que ficaram no meu caminho. Por eles ainda espalharem as mentiras e narrativas que espalham. É difícil.

Eu deveria ter chegado aqui muito antes. Eu deveria ter passado pelo Inferno mais rápido. Eu deveria ter tido mais resiliência. E eu me culpo. E eu odeio quem permitiu, me botou pra baixo ou desejava isso. Porque desejavam. Mesmo que neguem.

Mas se as coisas aconteceram do jeito que tiveram de acontecer, talvez tenha servido a um propósito. Talvez eu não seria quem sou agora. Ou talvez eu não consiga enxergar ainda toda a extensão da minha história e o significado de tudo no fim. Esse texto, é claro, é só mais uma tentativa.

Afinal, eu consigo enxergar melhor as coisas quando as escrevo.

Talvez eu deveria no final de tudo, admitir a minha própria incapacidade de entender tudo e só tentar o meu melhor, sem me preocupar com as banalidades, mágoas e ódios que tanto me assolam. Já faz tanto tempo. E eu não quero morrer e ressuscitar mais uma vez, graças à volatilidade das minhas emoções. Eu não sei se tenho sete vidas.

A próxima parte da história já está sendo escrita. Sei que o Bono me acompanha em espírito. Eu não sei aonde a jornada vai nos levar.

Mas eu espero que seja empolgante.

Afinal, ainda ficou um gato aqui observando a minha vida.

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Shirley em busca do Golconda

Se você pensa que estou escrevendo sobre você: Eu provavelmente estou.